segunda-feira, 2 de maio de 2011

O voluntário

Esta semana no trabalho voluntário passei pela primeira situação onde senti vontade de chorar. Trabalho como voluntário no administrativo de um grupo de voluntariado, dentro de um hospital. Além das funções administrativas costumo ajudar na brinquedoteca. Como na brinquedoteca só podem comparecer as crianças cujo quadro clínico permita este tipo de exposição, nunca tive contato com nenhuma criança extremamente debilitada. Algumas estão magras, abatidas, com soro ou em cadeira de rodas, mas sempre em condições de uma conversa, uma brincadeira ou um sorriso.

Foi então que eu conheci Mariana*, uma menina de aproximadamente 3 anos, que chegou na sala de cadeira de rodas, soro e sonda urinária. Mariana não falava muito e nem sorria. Aos poucos fomos oferecendo brinquedos e jogos para ela escolher os de sua preferência e fomos juntos viajando pelo mundo das brincadeiras. Aos poucos Mariana foi se soltando, interagindo e até mesmo sorrindo.

Foram duas horas onde vi o gelo ser quebrado, e a aflição de estar doente dar lugar ao mundo de criança. Acho que criança não deveria sofrer, não deveria adoecer, sentir dor, nem ser magoada. Deveria existir algo que impedisse isso. Eu olhava para aquela criança e tudo que eu conseguia pensar e pedir dentro de mim é que Deus lhe curasse, lhe tirasse a enfermidade, que ela ficasse boa e pudesse deixar o hospital. Longe de ter super poderes, sei que não poderia realizar estes desejos, mas também sei do poder dos pensamentos e da energia de uma oração.

Senti-me feliz por estar ali, proporcionando aquele sorriso à Mariana. Senti-me grato por poder doar a ela algo além do material e que naquele momento teria um valor muito maior do que qualquer brinquedo. Senti ali o valor da caridade, o valor do voluntariado.

Quando terminamos nosso período de funcionamento da brinquedoteca eu fui levar Mariana ao seu leito. Entrei com ela no quarto e percebi que não havia ninguém ali além de nós dois. Perguntei a ela quem estava a acompanhando e ela me disse que era sua mãe, mas que havia saído para comprar roupas.

Fui até as enfermeiras e perguntei se aquela garotinha estava mesmo sozinha no quarto. Elas me disseram que sim. Que a mãe dela havia saído e que sempre deixava a Mariana sozinha. Não consegui entender, nem aceitar aquilo. Não sou capaz de compreender como uma mãe pode deixar sua filha de três anos sozinha em um quarto de hospital.

Por dentro eu me remoia enquanto não deixava as lágrimas escaparem. Lembrei que tive a felicidade de ter uma família que sempre esteve ao meu lado nos momentos de enfermidade. Que meus pais, tios e avós sempre se preocuparam comigo e me ampararam nas horas mais difíceis. Olhei para aquela garotinha tão pequenina e lembrei-me das minhas irmãs. Com o coração e meus pensamentos eu a abracei na intenção de confortá-la.

Fiquei um pouco mais no quarto com Mariana a distraindo enquanto todas essas questões e tristezas passavam pela minha mente e pelo meu coração. Entendi que eu não poderia ficar ali pra sempre. Que eu não estaria ali com a Mariana todas as vezes que a mãe dela a deixasse sozinha. Entendi que para que meu trabalho como voluntário fosse realizado da maneira correta, eu deveria deixar Mariana ali, assim como a encontrei.

Eu posso oferecer duas horas semanais do meu tempo, do meu carinho e da minha dedicação ao serviço voluntário, mas não posso esquecer quais são os meus limites, que não posso mudar o mundo daqueles que encontro pela frente. Tenho que acreditar que fazendo a minha parte estou mudando o mundo de todos nós.

Nestes últimos dias Mariana tem estado em minhas orações, vibrações e no meu coração. Peço a Deus que esteja sempre por perto a amparando e que ela possa se curar em breve.

Quanto a mim sigo em frente, tentando não me abater pelas coisas que vejo por aí enquanto tento fazer alguma diferença neste mesmo mundo.

Jean Michel Torres.
 
* Mariana é um nome que escolhi para não expor a garotinha.
 
 

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